Em uma série especial composta por três textos, vamos falar sobre as três Leis Sistêmicas, também conhecidas como Leis do Amor, observadas por Bert Hellinger em seu trabalho com as Constelações Familiares.
Neste primeiro artigo vamos aprofundar na Lei do Pertencimento, entender o que essa lei significa e como podemos perceber a sua atuação em nossa vida.
O Pertencimento fala que cada pessoa tem direito de ocupar o seu lugar em seu sistema familiar, independentemente de seus comportamentos ou dos acontecimentos.
Um lugar seguro para cada membro
O pertencimento age profundamente em nossa alma: quando vivenciamos movimentos de exclusão ou excluímos fisicamente alguém de nosso sistema, sentimos os efeitos de forma clara em nossa vida.
Isso foi observado por Bert Hellinger desde o início do seu trabalho e estudo dos laços familiares, em sua longa experiência como psicoterapeuta.
Ele percebeu que todo sistema familiar possui uma inteligência inconsciente (semelhante a um inconsciente coletivo familiar) que deseja garantir o pertencimento de todos nesse grupo.
Quando alguém é excluído, o sistema e seus integrantes experimentam tensionamento. Isso é percebido através de dificuldades nas áreas da vida ou em uma dificuldade de dar seguimento à própria história pessoal.
Esse tensionamento é como um aviso do sistema de que algo precisa retornar para seu estado natural.
Isso significa: todos que pertencem não podem ser excluídos.
“Eu pertenço”
É possível experimentar o pertencimento de forma clara.
Lembre-se, por exemplo, de alguma situação em que você chegou em um lugar completamente desconhecido, como o primeiro dia de trabalho.
Para onde quer que você olhasse, nada de familiar surgia. Você não conhecia ninguém, nenhuma pessoa conhecia você. O que fazia com que você permanecesse lá era a necessidade de exercer seu trabalho e seu papel profissional.
Agora, lembre-se qual era a sua experiência depois de um ano nesse mesmo lugar. Você já possuía seu papel profissional bem definido dentro desse grupo, talvez já possuía colegas e até mesmo amigos do trabalho, e já tinha responsabilidades que cabiam somente a você.
E mesmo que o que movia você no início fosse apenas o impulso profissional, depois de um tempo já sentia o seu pertencimento àquele grupo.
Uma das maiores diferenças internas entre esses dois tempos é o sentimento de pertencer, de ter um lugar no grupo.
Lei do Pertencimento na Família
Se no trabalho já podemos experienciar isso em algum grau, é na família que o Pertencimento se mostra de maneira mais poderosa.
Isso porque, ao nascer em uma família, nos conectamos de forma profunda com aquele sistema, e isso é impossível de ser alterado: o pertencimento é um vínculo que não se desfaz.
Por mais que eu conviva com outras pessoas, me relacione com outras pessoas, mesmo que por movimentos do destino eu me afaste do meu sistema familiar, meu pertencimento estará para sempre ligado à minha origem, que existe apenas em um lugar: o sistema a que faço parte através dos meus pais.
Isso tudo acontece porque, de forma consciente e inconsciente, carregamos em nosso interior muitas informações e memórias epigenéticas, que reconhecem os vínculos e a proximidade dos indivíduos do nosso sistema familiar em relação às outras pessoas presentes no mundo.
Vínculos
Sentimos nosso pertencimento principalmente através dos vínculos que temos. Em nosso sistema de origem, nossos maiores vínculos são com nossos pais.
Por isso nossa forma de nos relacionar com eles, e que através deles nos faz experienciar nosso pertencimento e nossa segurança, reverbera de forma tão profunda em nosso movimento no mundo.
Se estamos seguros do nosso pertencimento, seguimos seguros para o mundo que se abre à nossa frente.
Se estamos inseguros, nosso movimento pode ser prejudicado pela sensação de que algo falta para sustentar nosso movimento.
Já na família que criamos através do nosso relacionamento amoroso, o vínculo é materializado nos filhos, que são frutos desta relação. Esse novo sistema, assim como o anterior, é um grupo familiar que garantirá o pertencimento de todos que ali se originaram, mesmo os que não nasceram ou que pouco tempo fizeram parte dele em vida.
Exclusões do pertencimento
Exclusões acontecem nos sistemas, e o resultado é geralmente um tensionamento experimentado através de dificuldades entre os integrantes.
A forma mais comum de exclusão é a dos filhos que morreram ou foram abortados.
Quando estes são vistos, observamos nas dinâmicas das Constelações que isso traz um sentimento de paz e leveza para o sistema.
É novamente a força do pertencimento se mostrando em nossa alma.
Também quando excluímos, embora não tenhamos consciência deste resultado, entregamos uma força substancial para o excluído, que passa a exercer muita influência em outros integrantes.
O excluído conta a seu favor com o inconsciente do grupo para ter seu pertencimento reconhecido. Por isso, aprender a integrar aquilo que é difícil tem tanta força para nossos caminhos de cura.
Viver a boa vida
A sensação de pertencer é uma das nossas maiores fontes de bem-estar na vida.
Quando estamos assegurados do nosso lugar em nossa família, relacionamentos, amizades e no trabalho, e vivenciamos isso em nosso interior, então somos tomados por uma forte sensação de segurança e tranquilidade.
Isso acontece principalmente porque somos animais sociais, e pertencer a um grupo é algo que está intimamente ligado com o registro corporal do sucesso da nossa sobrevivência.
No pertencimento encontramos também um sentimento profundo de conexão com aqueles que fazem parte da nossa história e, de forma profunda, com nossa família.
É através do pertencimento que sabemos que estamos “em casa”, em nosso lugar.