O visão sistêmica fala das relações que acontecem em um grupo de indivíduos e como estes relacionamentos geram influências entre si.
A “Constelação Familiar” de Bert Hellinger fala sobre como dentro do nosso sistema familiar recebemos influência de gerações anteriores, com as quais nem tivemos contato, e de que forma essas histórias familiares determinam como nos relacionamos com as gerações que vem depois.
Nesse cenário, uma das descobertas mais espetaculares de Hellinger foi perceber que há 3 leis que atuam nos relacionamentos: a Lei da Ordem, a Lei do Pertencimento e a Lei do Equilíbrio entre o Dar e o Tomar.
Finalizamos agora a série especial de três textos, em cada um deles abordando essas leis separadamente, ampliando a compreensão sobre este tópico tão importante.
E no artigo de hoje, falaremos sobre ela: a Lei de Ordem.
Ordem: Cada um em seu lugar
Hellinger, através do seu trabalho, nos trouxe a importância de ver e permanecer em nosso lugar dentro do nosso sistema familiar.
Mas o que é estar em seu lugar? Como percebemos isto?
Nosso lugar é condicionado pela nossa ordem de nascimento. Antes de nós existem os que vieram antes, e depois de nós existem os que vieram depois ou que ainda estão por chegar. Pode até parecer simples, mas não é tão simples assim…
Nosso lugar em nossa família é exatamente este: somos os últimos a chegar em relação aos que vieram antes, e somos os que chegaram antes para aqueles que vieram depois.
Pequeno para os que vieram antes
Chegar por último significa reconhecer que aqueles que vieram antes tem precedência.
Somos menores em relação a eles e, de certa forma, não podemos reconhecer verdadeiramente suas experiências na totalidade, afinal, muitas delas aconteceram quando ainda nem estávamos aqui.
Grande para os que vieram depois
Já para aqueles que vieram depois de nós, que são mais jovens do que nós, somos grandes.
Do nosso lugar, podemos olhar para eles e perceber que podemos dar algo a eles, mas que o caminho inverso é mais difícil e nem sempre é possível.
Um exemplo de Ordem entre irmãos
Podemos dar algo a partir do nosso lugar. Por exemplo: eu posso dar apoio ou auxílio para um irmão mais jovem, mas sempre no lugar de irmão mais velho e jamais no lugar de pai ou mãe dele.
Uma boa medida quando ajudamos um irmão, como por exemplo quando este precisa de um auxílio financeiro, é quando temos uma relação de tal forma que podemos ser capazes de dizer: “eu te ajudo, e quando você puder você me devolve.”
É importante que seja uma ajuda capaz de ser compensada depois, pois quando é algo que o irmão não poderá compensar, essa ajuda irá gerar desequilíbrio e tenderá a nos colocar no lugar de pais do irmão, causando conflitos inconscientes que se originam da impossibilidade de compensar.
Já o irmão que recebe a ajuda financeira, se quiser manter o relacionamento e o amor fluindo entre eles, poderá devolver a ajuda recebida e um pouquinho a mais. Assim o relacionamento entre os irmãos continua a fluir, pois é como uma espiral que vai crescendo e cada um sempre vai acrescentando um pouco de amor, de gratidão, de apoio e, mesmo assim, ambos continuam livres.
Dinâmicas que trazem dificuldades
O outro lado desta moeda acontece quando não respeitamos nosso lugar – nossa ordem – dentro do nosso sistema familiar.
Um exemplo comum é na relação entre pais e filhos. Os pais são maiores que seus filhos, e essa imagem interna nunca pode ser alterada.
Os pais dão aos seus filhos a vida, e dessa forma os conecta ao fluxo da vida que passa através deles.
Os pais chegaram antes que seus filhos, e por isso a experiência deles nunca poderá ser completamente compreendida por aqueles que vieram depois. A visão dos filhos sobre tudo aquilo que move seus pais é geralmente incompleta, e é natural que seja assim.
O que acontece então quando um filho não aceita, por qualquer motivo, um dos pais? Ou mesmo ambos?
A ordem nessa relação se confunde, pois através desse movimento o filho se coloca superior aos pais, acreditando que aquilo que desaprova neles poderia ser mudado.
Muitas vezes, em seu amor mágico, o filho acredita ter as soluções. Porém, essa é a sua arrogância infantil, um movimento totalmente inconsciente. Assim, surge uma imagem interna de superioridade em relação aos pais que constrói o movimento de sair do seu lugar de filho.
Consequências de estar fora do seu lugar
Esse movimento de quebra da ordem (como no exemplo anterior entre pais e filhos) leva a um tensionamento para o filho. Essa é uma pressão exercida pelo sistema para reaver os lugares corretos de cada um.
Esse movimento também pode acontecer entre avós e netos, irmãos, e mesmo em outras relações familiares.
A dinâmica é sempre muito semelhante: a troca de lugares entre suas posições na família, tanto do mais velho quanto do mais novo, gera conflitos e prejudica os relacionamentos.
Isso porque muitas vezes esse movimento é também facilitado por aqueles que vieram antes e não permanecem nos seus lugares como maiores.
É comum, por exemplo, acontecer de uma pessoa transferir uma dinâmica que acontecia com seus pais para o seu relacionamento com os seus próprios filhos.
Ou seja, se alguém foi colocado no lugar de maior por seus próprios pais (que por algum motivo não conseguiram tomar seu lugar de grandes), essa pessoa poderá tender a fazer o mesmo com seus filhos, buscando neles força e apoio.
As consequências de casos assim é o surgimento de muitas dificuldades no relacionamento e na vida de ambos.
Aprendizado e crescimento
É verdade que muitas vezes as dificuldades originadas por essas dinâmicas movem a pessoa a crescer e se desenvolver como indivíduo.
Se somos capazes de escutar o que nossas dores físicas ou emocionais querem nos dizer, encontramos uma bela oportunidade de crescimento.
Para além disso, é importante atentar cada vez mais para os conhecimentos sistêmicos trazidos por Bert Hellinger: nós como indivíduos somos seres sistêmicos. Nossa origem é a partir de dois sistemas familiares, dos quais sempre faremos parte.
Vivemos em sociedade, que também é um grande sistema, e estamos inseridos em muitos outros sistemas: no trabalho, grupo de amigos e assim por diante.
Em todos esses sistemas, e de forma mais forte no sistema familiar, a atenção e respeito à ordem e ao nosso lugar nos trará leveza em nosso caminhar na vida.