A história de nossos antepassados é responsável por influenciar a nossa vida, mas você sabe como? Para compreender sobre esse tema, desenvolvemos este artigo. Esperamos que aprecie.
“Quanto mais profundamente penetramos no mundo microscópico, tanto mais nos rendemos conta que o físico moderno, à semelhança do místico oriental, enxerga o mundo como um conjunto de interações e componentes inseparáveis em movimento contínuo e que o homem é parte integrante deste sistema.”
Fritjof Capra
A Constelação Sistêmica de Bert Hellinger fala sobre como o que aconteceu antes de nossa chegada no mundo, influencia nossa vida. Essa é uma ideia que, embora clara, se confunde dentro de nossas crenças.
Em alguma medida nós acreditamos na liberdade incondicional da nossa vida, pensamos que somos independentes e donos do nosso próprio destino. Mas será mesmo? Será que não existe uma verdade oculta que altera o nosso caminho individual e do sistema a que pertencemos?
A Teoria Sistêmica
O biólogo austríaco Ludwig Von Bertalanffy formulou a Teoria Sistêmica, onde afirmou que sistemas são um momento de equilíbrio em um organismo, graças à dependência mútua de seus componentes e de suas funções.
Eles, como um todo, tendem ao equilíbrio e o total resulta diferente da simples soma das partes. Além disso, uma simples mudança de uma parte influencia globalmente o todo. Tudo que é sistêmico depende do todo a que pertence, sem a possibilidade de qualquer exclusão sem que haja prejuízo.
“Cada elemento de um sistema está em relação com os outros elementos e tem uma razão de ser pela específica função que desenvolvem.”
Jaqueline Cássia Oliveira
Gregory Bateson, um antropólogo inglês, aplicou essa teoria na família e nas estruturas sociais. Aqui surge a primeira percepção de que, como humanos, não estamos isolados de outras partes do nosso sistema. Fazemos parte da história, do planeta, do continente, da nação e, é claro, da nossa família.
A história de nossos antepassados: interconexões do sistema familiar
Bert Hellinger construiu a percepção de que o sistema permanece como uma grande fonte de conhecimento da história familiar e age sobre todos que pertencem àquele determinado sistema. O campo, mais tarde chamado de “Campo Morfogenético” ou Morfológico” por Rupert Sheldrake, contêm todas as informações acumuladas ao longo da história. Essas informações são utilizáveis através do espaço sem nenhuma perda de intensidade depois de terem sido criadas. Como uma consciência sistêmica, que possui suas diretrizes que devem ser respeitadas.
São campos não-físicos que se manifestam em sistemas que possuem alguma organização inerente, desde sistemas simples que ele observou em animais, insetos e plantas até chegar até nós, seres humanos.
Dessa forma, através dessa consciência, os membros sucessores de um sistema são influenciados por aquilo que aconteceu antes deles.
Anne Ancelin, criadora da Psicogenealogia, outra vertente terapêutica que poderia ser trazida aqui para embasar as Constelações Familiares (e vice-versa), explica de forma muito clara:
“Para cada um de nós, a vida é um romance. Eu e todos vocês vivemos prisioneiros de uma invisível teia de aranha, da qual somos também um dos mestres de obra. Se, com nosso terceiro ouvido, com nosso terceiro olho, aprendermos a distinguir, a melhor compreender, a entender, a ver as repetições e coincidências, a existência de cada um de nós se tornará mais clara, mais sensível àquilo que somos, àquilo que deveríamos ser. Será que não podemos escapar desses fios invisíveis, dessas “triangulações”, dessas repetições? Somos afinal, de certa forma, menos livres do que acreditamos. Entretanto, podemos conquistar nossa liberdade e sair da repetição, ao compreender o que acontece, ao distinguir esses fios no seu contexto e na sua complexidade. Podemos enfim viver “nossa” vida e não a de nossos pais ou avós, nem a de um irmão falecido, por exemplo, que vamos substituindo, consciente ou inconscientemente.”
Anne Ancelin Schutzenberger
Os Emaranhamentos: quando queremos assumir a dor por outros.
Às vezes, de forma inconsciente, acreditamos que podemos assumir através de uma doença, de um fracasso ou em casos mais extremos, da nossa própria morte, a culpa ou o destino difícil que pertence a outra pessoa de nosso sistema.
Por amor, nos enredamos no nosso romance familiar e tomamos para nós problemas que não somos capazes de resolver, simplesmente porque eles não são nossos, não foram gerados por nós ou não dizem respeito a nós.
Os vários fios que tecem as vidas em um sistema, dessa forma se emaranham. Uma mistura de causas onde não sabemos mais o que é nosso ou do outro, se confundem e influenciam a todos. Por um amor imaturo, nos colocamos entre nossos antecessores e seus destinos. E dessa forma repetimos e nos penalizamos, inconscientemente, com dificuldades e insucesso.
Através desse mesmo amor, nos identificamos com histórias passadas no nosso sistema, trazendo à tona exclusões e movimentos difíceis. Segundo Hellinger, muitas de nossas dificuldades que não conseguimos resolver vêm deste local. É como se, com nosso amor, estivéssemos dizendo ao antecessor que foi excluído: “eu repito seus erros hoje pois dessa forma eu te trago à lembrança e você poderá voltar a pertencer”. É o nosso amor de criança que comanda essa identificação.
O movimento de Hellinger – as dinâmicas das Constelações Sistêmicas
As Constelações ajudam a perceber essas dinâmicas ocultas, e como elas podem estar agindo na nossa vida. Em seu livro “O amor do espírito”, Hellinger descreve um pouco esse movimento:
Quando a frase “Eu sigo você” vêm à luz como o quadro de fundo de doenças graves, acidentes fatais ou tentativas de suicídio, a solução que ajuda e cura consiste em que o filho afirme a frase, com toda a força do amor que o move, olhando nos olhos da pessoa amada: “Querido papai, querida mamãe, querido irmão, querida irmã – ou seja quem for -, eu sigo você.” Aqui também é importante que a frase seja repetida quantas vezes forem necessárias, até que a pessoa amada seja percebida e reconhecida como uma pessoa autônoma que, apesar de todo o amor, se separa do próprio eu. Então o filho reconhece que seu amor não supera os limites que o separa do ente querido e que precisa deter-se diante desses limites. Aqui a frase também o força a reconhecer tanto o próprio amor quanto da pessoa amada e a compreender que essa pessoa carrega e realiza melhor o seu destino quando ninguém a segue, muito menos o próprio filho.
A intromissão de uma pessoa no destino alheio é um movimento que gera grandes dores ao sistema, e será revertida em dificuldades para todos que a ele pertencem. Da mesma forma, o respeito e a honra à história familiar se tornam a base de uma vida mais leve, ainda que possam haver dificuldades, afinal, eles são parte inerente à vida de todos.
A leveza vem da conformidade com o destino, onde mesmo as dificuldades que se apresentam estão alinhadas com as capacidades de resolução daquele sistema.