As doenças de nosso corpo e mente são a manifestação que busca nos dizer que algo está em desordem.
Mas como podemos olhar as doenças a partir das Constelações Familiares?
Uma grande parte dos problemas sistêmicos advém da exclusão. Seja qual for o motivo que nos leve a excluir alguém de nossa rede familiar, para o sistema, a exclusão é uma falta grave no direito de pertencimento de todos. E para lembrar os membros do sistema dessa exclusão inapropriada, podemos sintomatizar em nosso corpo doenças que nos ligam àqueles que foram excluídos.
Nosso corpo é uma “engenharia” de grande sabedoria e complexidade. Ainda que por vezes a medicina olhe para cada parte em separado, é interessante perceber o benefício que existe ao ver nosso organismo como algo sistêmico, onde as partes influenciam o todo.
Jean Yves Leloup, filósofo e fundador do Colégio Internacional de Terapeutas diz que o “corpo não mente”. Mais que isso, ele conta muitas histórias e em cada uma delas há um sentido a descobrir, como o significado das doenças ou do prazer que animam algumas de suas partes.
O corpo é a nossa memória mais arcaica. Nele nada é esquecido. Cada acontecimento vivido, particularmente na 1ª infância e também na vida adulta, deixa no corpo a sua marca profunda. Como faziam os Terapeutas do Deserto, que cuidavam do corpo, do psiquismo e também do espírito, trata-se, pois, de escutar cada uma das partes de nosso corpo, do ponto de vista físico, psicológico e espiritual.”
Como podemos olhar as doenças através da terapia da Constelação Familiar?
As Constelações Familiares têm um enfoque sistêmico para as doenças. Dentro de uma rede familiar, considerando todos os acontecimentos que ocorreram até a geração atual, pode ser que a doença apareça nas gerações posteriores através da identificação, lealdade, repetição de uma situação, exclusão ou dificuldade passada.
Um exemplo disso foi dado pela Dra. Ursula Franke-Bryson, no artigo “Comendo para os ancestrais.” Neste texto, ele transcreve a Constelação de um homem, europeu, que havia encontrado respostas e ferramentas para lidar com grande parte de seus desafios pessoais. Na busca de uma vida mais equilibrada e saudável, faltava resolver um grande problema, seu excesso de peso corporal.
A terapeuta investigou que umas das primeiras reações que o cliente sentia era de nervosismo ao menor sinal de fome. Uma fome que não chegava a incomodar, pois era suprida de comida ao seu primeiro sinal. Úrsula conduz o cliente através da Constelação e descobre, após algumas perguntas e exercícios corporais, que ele está identificado com seu avô, que foi um soldado e morreu de fome em um campo para prisioneiros de guerra. Ao comer, o neto trazia à tona – de forma inconsciente – a existência, o pertencimento e a dor do avô pela privação de comida. Ao reconhecer a dinâmica oculta da sua compulsão por comida ele pode se fortalecer para honrar seu familiar de forma menos destrutiva.
Esse é o local valioso onde a Constelação Sistêmica pode nos ajudar a perceber dinâmicas ocultas que estão nos levando a tomar decisões baseadas em lealdades que não trarão nenhum resultado senão a repetição do sofrimento. Nossa lealdade e nosso amor, nesse caso, são cegos. Através da Constelação vemos realmente esses destinos sofridos e os honramos, como adultos que reconhecem seus lugares e seus reais papéis dentro da rede familiar.
Quando pensamos em como podemos olhar as doenças, é fundamental frisar que as Constelações jamais trabalham de forma exclusiva em relação à Medicina. Aliás, é exatamente o contrário – a proposta é, através das Constelações, oferecer mais uma possibilidade para o cliente olhar para sua doença e mais uma ampliação de olhar para os médicos e terapeutas.
Como podemos olhar as doenças: terapia de intervenção preventiva
A principal ideia no campo da saúde em Constelações Sistêmicas é que forças inconscientes negativas passam de uma geração à outra. Se não desvincularmos nosso amor infantil, olhando e honrando nosso sistema e suas dores como adultos, podemos estar fadados a repetir o acontecimento, num ciclo de dor que não cessa.
Mas, ao decidirmos olhar para a questão, honrando e respeitando o destino dos nossos antepassados, o que se observa é o enfraquecimento ou até a diluição total da dinâmica nas gerações posteriores. É sabendo nossa história e lembrando do que ocorreu com maturidade e respeito, que vamos sair dos emaranhados que poderiam estar atuando em nossa rede familiar.
Em que situações as Constelações podem ajudar?
Maria Izabel Rodrigues, psicóloga psicoterapeuta e consultora organizacional escreveu em seu artigo “As Constelações Sistêmicas na prevenção de doenças” algumas situações onde o método de Bert Hellinger pode ser de grande ajuda:
A pessoa que se sente “carregada” por forças, que, de alguma maneira, não reconhece como sendo só suas, que já trabalhou muito, porém sem resultados em terapias convencionais. Essas forças podem ser traduzidas com sentimentos e pensamentos negativos recorrentes como: culpa, medo ou vontade de morrer, depressão, pânico, raiva intensa sem motivo aparente, isolamento, etc.
Terapeutas que enxergam em seus pacientes indícios de que eles “carregam” destinos de outros e que, por mais que já tenham trabalhado terapeuticamente, estes padrões não perduram. Nestes casos, o próprio terapeuta pode encaminhá-lo para uma Constelação e até mesmo acompanhá-lo, pois as informações que emergem de um processo como esse são valiosas para a paciente e terapeuta continuarem o trabalho de terapia.
Pacientes acometidos pela doença podem passar por um processo de Constelação com o objetivo de transformar os padrões negativos que sabe que herdou do seu sistema familiar e que dão indícios de terem contribuído para o aparecimento de sua doença. Ao “libertar-se” desses padrões, o paciente pode, utilizando seus próprios recursos de autocura, tirar melhor proveito dos tratamentos e terapias a que esteja se submetendo.
Poucos são os pacientes que conseguem perceber uma relação entre sua doença e sua família, ou reconhecer a influência que eles próprios exercem sobre sua doença. As Constelações são um caminho para que a pessoa doente consiga perceber onde ela ficou emaranhada e assim liberar-se com respeito ao destino dos que vieram antes.