Contoterapia: Um caminho feito de palavras

Contar história, contoterapia Yuri_B

Palavras que entram pelos ouvidos e se aninham no coração… ou nos ombros, ou nas mãos e nos pés.

Palavras que, de tão profundas, ganham livre acesso a qualquer parte do nosso ser, onde elas mais são necessárias.

E assim, as palavras que estavam nos contos trabalhados em nosso curso de Formação em Contoterapia Sistêmica, viraram agora partes de nossa própria história, que ainda estamos contando.

Se em alguns momentos nos faltaram palavras, aos poucos elas vão sendo descobertas e integradas através da Contoterapia.

Ao longo dos Módulos do curso, vemos que as palavras vão virando novas posturas, ações e novos conhecimentos. Como diz nossa professora: “O conto dá conta”. E como!

Leia abaixo o texto da professora Sonia Farias, contando como a experiência na Formação em Contoterapia Sistêmica do Raízes Instituto a tocou de forma especial. Perceba como as palavras são uma poderosa ferramenta em nosso desenvolvimento e também no trabalho terapêutico.

Palavras de uma sonhadora…

“ … acabam-se os nossos dias como um conto ligeiro.” Citação do Salmos 90:9

Os Contos do 1° Módulo da Formação em Contoterapia nutriram nossos corações. Relembrando-os, ganhei um forte impulso para mais uma etapa nesta Formação.

Fomos dia a dia, contadores do amor.

Sim, contadores com coração bem firme em nossa lei áurea: “O conto dá conta!”

Nossos corações procuram corações. Como nos alerta Nelson Mandela: “Não se dirija ao cérebro dos outros; dirija-se ao coração.”

Cantamos juntos: “A palavra do conto é semente, vai caindo, caindo e caindo. Quando todos pensam que está morta, vai nascendo, brotando e crescendo.”

Ouvimos o primeiro conto: ‘Um homem e o tesouro’.

Era uma vez um homem que viu um terreno que tinha um tesouro enterrado bem ali. Então decidiu dedicar toda a sua vida para adquirir os recursos necessários para comprar aquele terreno. Conseguiu depois de muito tempo, comprou o terreno e tomou o seu tesouro.

Com o conto “O homem sem sorte”, descobrimos que o Criador não dá sorte a ninguém. Podemos ficar por aí chorando o tanto que quisermos, caminhando pela vida anos e dias, até descobrir que o Criador dá oportunidade a todos, e que cada um pode fazer das oportunidades sua felicidade ou infortúnio. É preciso fazer escolhas.

Foi assim com o menino Roberto. Ele viu brilhar sua chance quando se dispôs a seguir para a França com sua fada madrinha, a pesquisadora que o adotou. Essa mulher lhe devolveu a dignidade, quando olhando em seus olhos mergulhados na tristeza da rejeição, ela pediu licença para falar com ele.

Ouvimos a sua história. Falava sobre “As crianças afogadas.” Roberto era um desses meninos, estava morrendo afogado, e foi salvo quando se dispôs a contar suas histórias.

Com sua capacidade inventiva surpreendente, tornou-se um Storyteller consagrado, sendo o primeiro brasileiro premiado no exterior como contador de histórias.

E os contos seguem…

O conto “A Psique e o Eros” foi sendo contado em doses homeopáticas, dia a dia, provocando em todos o gostinho do quero mais.

O conto “A velha”, sobre a senhora que perdeu a saia e nada fez. Muitos ainda se encontram assim, perdendo sem nada fazer, para conservar uma inocência que só semeia desgraça. Até quando?

E o que dizer do conto: “O ferreiro e a tecelã”?

Quantos contadores-atores se encontram entre nós! Lindos. Momento sublime da 1° turma em Formação.

E o conto sobre o Imperador que mandou vir a sua presença um homem que ele considerava o mais sábio de toda região e pediu-lhe que redigisse uma obra que contivesse o conhecimento essencial.

Depois de muitos anos, ele conseguiu colocar em uma única palavra ‘o essencial’.

Com o conto “O chá quente”, todos aprendemos que precisamos nos esvaziar para poder receber algo novo.

Bert Hellinger

Com Bert Hellinger aprendemos a reverenciar os dois tipos de prazer: o da leveza e do sofrimento, juntamente com o conto “O burro”.

Por falar em sofrimento, ouvimos também sobre aquela mulher que desejava vender seu burro estúpido, deixando-o no mercado. Mas ele mordia, dava coice em qualquer pessoa que se aproximava dele, assim o burro não foi vendido.

Com mais esse conto “O burro”, aquele vendedor suspirou quando ouviu a mulher dizer: É, eu já sabia disso. Esse meu burro não vale nada. Eu só queria mostrar às pessoas como eu sofro com esse burro.

E a história “A dona Beja, a bela mulher de Araxá”, especialista em atender com excelência as necessidades masculinas? Maravilhosa! Com sua postura em atender bem com o que tinha de melhor, despertava nas donzelas de Araxá uma amarga inveja.

E dona Beja, sempre com elegância, respondia aos invejosos, com flores que colhia do seu próprio jardim. Tinha o melhor, e sem deixar para depois, para amanhã, ofertava sempre o seu melhor.

Bert Hellinger nos presenteou com seu conto “A resposta”. Com ele aprendemos que podemos estar como um cavalo chucro, respondendo com nossa estupidez. Ou como o timoneiro que não se conforma com o naufrágio de sua embarcação, e sua vida fica banhada em remorsos. Ou ainda com habilidade e sapiência, nossa resposta pode ser como um frágil caule verdinho, representante da resposta compreensão, superando toda a nossa estupidez e remorsos.

Curvamos, sem quebrar. Assim, o vento bate forte, e o caule verga bem ali onde é frágil, e assim permanece. Hellinger nos fez lembrar suas histórias entre os Zulus. Com a prática do círculo de proteção, aquele que comete algo contra o grupo, era colocado no centro do círculo para receber de todo grupo, palavras sobre seus acertos e bondades, desde os mais velhos até os mais jovens.

Nilton Bonder

Nilton Bonder também esteve entre nós, em dois preciosos momentos. No primeiro trouxe-nos a história do “Rabi Zalman Schachter que conversando com um discípulo” que veio perguntar-lhe sobre sapiência:

“ – Como é que se pode alcançar a sapiência, a sagacidade e a compreensão?

– Através do uso do bom-senso, de bons julgamentos.

– E como é que se alcança o bom julgamento?

– Através de muita experiência.

– E como é que alguém atinge muita experiência?

– Através de maus julgamentos.”

No segundo momento, Nilton Bonder ainda no tema sobre a sapiência, sagacidade e compreensão, lembrou o momento exato da história do povo hebreu, em que se descobriu o segredo de fazer ‘o mar se abrir’.

Segundo a tradição judaica, registrada em Êxodo 24:7, Israel revela a Moisés sua intenção de cumprir os desígnios divinos através do dito: “faremos e então ouviremos.” O povo estava encurralado, o exército egípcio atrás e à frente o mar vermelho.

Na tradição oral, o que se conta de boca em boca, é que antes de o mar se abrir foi preciso que um homem que não sabia nadar, se jogasse no mar. Foi seu feito que propiciou a compreensão de que ‘os mares podem se abrir.’

Mas é preciso tomar uma decisão. Para mergulhar não é preciso saber nadar. É preciso decidir.

Quando nos perdemos em nossa sapiência?

Quando estamos enclausurados e limitados por nossos pensamentos e percepções. O povo hebreu recebeu o poderoso instrumento de que a percepção vem primeiro, depois o intelecto e opiniões. Decidir, ou seja: “Faremos e depois ouviremos.”

No livro Ética dos ancestrais afirma: “Aquele que estuda com o intuito de ensinar estará capacitado a aprender e ensinar. Aquele que estuda com o intuito de agir e praticar, este será capaz de aprender e ensinar, mas também de observar e praticar.”

Continuando ainda com os contos judaicos, recebemos a história do grande sábio Rabi Ba’al Schem Tov, ele estava à morte e mandou chamar seus discípulos. Disse-lhes:

“Sempre fui o intermediário de vocês e agora, quando eu me for, vocês terão de fazer sozinhos. Vocês conhecem o LUGAR na floresta onde eu invoco a Deus? Fiquem PARADOS naquele LUGAR e ajam do mesmo modo. Acendam a FOGUEIRA, e façam a ORAÇÃO. Façam tudo isso, e Deus virá. Depois que o Ba’al Schem Tov morreu, a 1° geração obedeceu exatamente às suas instruções, e Deus veio.

Na 2° geração, haviam esquecido como se acendia a FOGUEIRA do jeito que o Ba’al Schem Tov lhes ensinara. Mesmo assim, eles ficaram PARADOS no LUGAR especial na floresta, diziam a ORAÇÃO, e Deus vinha.

Na 3° geração, ninguém lembrava como acendiam a FOGUEIRA, nem no LUGAR, mas diziam a ORAÇÃO, e mesmo assim Deus ainda vinha. Na 4° geração, ninguém lembrava como acendiam a FOGUEIRA, nem no LUGAR para se ficar PARADO, ninguém conseguia recordar nem da própria ORAÇÃO. Mas uma pessoa ainda se lembrava da história, sobre tudo aquilo, e a relatou em voz alta. E Deus ainda veio.”

O que é essencial?

Assim, segundo as tradições familiares mais profundas, o dom essencial da história tem dois aspectos:

“Que no mínimo reste uma criatura que saiba contar a história, e que com esse relato, as forças maiores do amor, da generosidade e da perseverança sejam continuamente invocadas a e se fazerem presentes no mundo.”

Aconteceu tudo isso, acabou e foi verdade. Como dizem os contadores africanos de Mali e da Guiné: Eu coloco meu conto de volta onde o peguei.

Assim foi com nosso conto de encerramento, “A pedra jade na mão”. Queríamos encerrar colocando uma semente de flamboyant na mão de cada participante, corremos atrás e nada. Desistimos da ideia com tristeza.

Mas para surpresa de todos, estávamos hospedados numa casa repleta da flor de Jade. Foi demais. Fomos tomados pela sincronicidade e sintonia junguiana cuidando de tudo ao lado do Criador. Eles nos presentearam com a semente de Jade nas mãos e no coração.

Sim, por um ano e um dia, aquele jovem para ser um joalheiro precisou tomar a pedra de Jade, e segurá-la em sua mão fechada. Ao retornar ao mestre joalheiro, perguntou-lhe: – E agora? O que devo fazer?

– Eu vou colocar uma segunda pedra na mão e você ficará com ela durante um ano e um dia.

Mas desta vez o jovem explodiu:

– Não! Isso é um absurdo.

Mas enquanto esbraveja, o mestre colocou em sua mão uma outra pedra. Automaticamente, o rapaz fechou a mão e, espantado, disse: Mas esta pedra não é Jade.

Após um ano e um dia, quem sabe teremos o saber daquilo que é e daquilo que não é.

A grande mestra Clarissa Pinkola Estés

E, claro, nesta formação, também adentramos e mergulhamos nos contos profundos de Clarissa.

Sim, com La Loba, a mulher sábia que faz tudo para tomar um ossinho autêntico, ela recolhe e guarda.

Pois tudo que tem valor psíquico, ela sabe que retornará e ganhará vida.

Com “Os quatro rabinos” fomos adentrando nos contos do “Barba Azul” e da “Vasalisa”, com prudência e coragem, olhamos o sangue que jorrava sem parar, enfrentamos nossa ingenuidade. O Barba foi vencido com a ajuda das irmãs mais velha e dos irmãos.

Com instintos restaurados, atualizados, seguimos em busca da intuição.

Com a intenção de desenvolver um relacionamento de amor e confiança com a bênção, Baba Yaga pediu o cumprimento das nove tarefas arquetípicas para interromper a exploração de nossos aspectos perversos.

Saímos desafiados a reconhecer a existência de predadores, para nossa proteção, e também para nos privar da energia assassina sempre presente nas madrastas e enteadas. Para se viver livre e seguro, precisamos ter em mãos, a bênção e o fogo criativo, assim e somente assim, qualquer predador permanecerá longe de nós.


Despertou em você a curiosidade em saber mais sobre estes contos que foram citados, e como a partir deles é possível trabalhar o desenvolvimento pessoal? Convidamos você a conhecer mais sobre a Contoterapia e nossa Formação aqui.