Dificuldades de aprendizagem e distúrbios comportamentais na escola – Um olhar sistêmico e inclusivo

educação

A Pedagogia Sistêmica vem sendo desenvolvida nas últimas décadas em vários países do mundo e é uma prática dinâmica vinculada ao contexto educativo ao qual denominamos “campos de aprendizagem”.

Ela traz a visão sistêmica como caminho de potencialização de cada segmento do processo educativo como relevante para o todo, conectando a família e escola em seus lugares de competências e, criando assim, a partir da escola, um ambiente de inclusão onde todos possam assumir o seu lugar, levando em conta os sistemas familiares, educativos e institucionais, sua função e como se interconectam.

Sua abordagem integra o grupo de origem do indivíduo e sua família no processo de compreensão daquilo que favorece ou dificulta o seu aprendizado e lança luz sobre o que atua no comportamento, nas atitudes, nas dificuldades, nas doenças e conflitos vivenciados pelos aprendentes.

Através do olhar sistêmico segundo a abordagem das Constelações Familiares, pode-se perceber a dinâmica escondida no sistema da criança e os pontos de interseção com as dinâmicas da escola e do próprio processo de aprendizagem. 

Essa visão permite desenvolver um trabalho efetivo, que poderá liberar a força genuína desta criança que, ao reconhecer-se parte de sua família e reafirmar seu pertencimento, bem como ao permanecer em seu lugar de força ao respeitar a lei da ordem, poderá prosseguir em força e equilíbrio. Desta forma, a capacidade de compreender o comportamento desta criança fica ampliada, tornando possível potencializar seu sucesso consigo mesma e com seu sistema familiar, escolar e em outros espaços sociais.

A Pedagogia Sistêmica surgiu dos estudos aprofundados da visão sistêmica no âmbito da pedagogia, através de um movimento pioneiro de Marianne Franke-Gricksch, que descreve as primeiras vivências dentro de uma escola, da aplicação das leis sistêmicas no cotidiano escolar.

Para a professora alemã Marianne Franke-Gricksch (2009), que experimentou em sua classe, com alunos adolescentes, os movimentos sistêmicos do filósofo e terapeuta alemão Bert Hellinger, as Constelações Familiares permitem revelar o fato de que fazemos parte de uma grande alma (grande sistema) que compreende a todos os membros da família, sujeitos a uma ordem essencial. O sistema de educação, familiar e o social encontram-se em constante interação na sala de aula.

A visão da Pedagogia Sistêmica

A Pedagogia Sistêmica mostra que, para que o processo de aprendizagem flua eficazmente, é preciso respeitar as origens e contextos de cada elemento/aluno, ou seja, ter consciência de que cada aluno vem de um contexto específico, fundamental para o seu desenvolvimento, e é preciso estar disponível afetivamente, ter como valores o agradecimento e a admiração pela vida, pelos pais destas crianças.

Através desta visão ampliada que as Constelações trazem, através desta visão sistêmica que a tudo inclui como significativo, percebemos que alunos sendo excluídos, ou que fracassam na escola, normalmente estão repetindo ou denunciando dores, exclusões ou padrões ocorridos em seu sistema de origem.

Repetem o destino de seus pais, irmãos, tios e avós. Se há inversões de papéis, ou pessoas ocupando lugares que não são os seus, há sofrimentos.

A Pedagogia Sistêmica pode ser aplicada em situações de dificuldades de aprendizagem, de problemas comportamentais, em conflitos entre aluno e docentes, na hierarquia institucional e quaisquer problemáticas que surjam no sistema escolar, direta ou indiretamente.

Nas instituições de ensino, conhecemos bem as tensões e conflitos criados pelo descaso, precarização e mercantilização da educação e as consequências daí decorrentes, em todos os níveis. 

O bullying – agressividade dos alunos para com os professores e entre si – é o maior retrato desse caos, bem como burnout, o esgotamento comum aos professores.

As 3 Grandes leis de Hellinger

Ao se deixar claro as funções, papéis e a hierarquia (LEI DA ORDEM) potencializa-se o sentimento de que todos têm um lugar (LEI DO PERTENCIMENTO), evitando-se sobrecarregar e tirar a força de diretores, professores, alunos e da própria aprendizagem. 

O mesmo serve para a equivalência entre dar e receber (LEI DO EQUILÍBRIO), o que cada um dá e o que cada um recebe na dinâmica da escola? Que parte cabe a cada um, enquanto responsabilidade, e como a escola faz esse reconhecimento?

Outro aspecto que nos faz refletir dentro de uma visão sistêmica é o alto índice de alunos desmotivados para estudar, para a vida, para o futuro. Onde será que eles estão conectados que não conseguem caminhar para a vida? O que não é motivador na vida atual destes alunos? Que movimento a escola está realizando que os acaba excluindo?

Para que esse movimento de inclusão dê certo, é necessário que os professores, ao olharem para seus alunos, enxerguem através deles seus pais, mesmo sem conhecê-los. São os pais que dão a força para que os filhos se tornem ativos na vida, independente do que eles tenham feito ou vivenciado.

Conhecer os fundamentos do campo sistêmico familiar tem exercido influências precisas e eficazes em muitos casos e atendimentos clínicos realizados em todo o mundo, abrindo caminho para soluções destes conflitos escolares e familiares.


*A experiência de Marianne Franke-Gricksch pode ser conhecida pela leitura de seu livro “Você é um de nós – percepções e soluções sistêmicas para professores, pais e alunos”, publicado em 2009 pela Editora Atman.