Era uma vez um jovem alemão: uma história sobre Bert Hellinger

Bert Hellinger - visão sistêmica

Sobre a história de uma vida extraordinária!

O Raízes Instituto atua há mais de 10 anos como um pioneiro das Constelações Familiares em Florianópolis. Desde os primeiros contatos com este conhecimento, que também se traduz na nossa postura de trabalho e de vida, sente-se extremamente reverente àquele que trouxe este conhecimento para o mundo: o psicoterapeuta alemão Bert Hellinger.

Bert Hellinger foi um autor e terapeuta reconhecido mundialmente, que viu a aplicação do seu trabalho gerar frutos e movimentos todos os dias, até hoje.

As Constelações são muito mais do que um método de trabalho: elas são uma postura nova, uma postura de vida.

Quem entra em contato de forma profunda com a obra de Hellinger, se transforma e adquire um novo olhar perante a vida e os desafios que ela impõe: um olhar leve, confiante e que leva a encontrar as próprias fontes de força e alegria.

No texto a seguir, a consteladora Maria Inês Araujo Garcia Silva, do Raízes Instituto, nos traz de uma forma muito particular e especial uma história da trajetória deste homem que se pôs a serviço da vida, mesmo nas horas mais difíceis.

Bert Hellinger: Era uma vez um jovem alemão

Um dia, um jovem alemão cheio de ideais e ideias precisou adiar seus projetos, pois a guerra chegou à sua cidade, à seu bairro, à seu quintal.

Este jovem aceitou esse viés do destino, como lhe era habitual fazê-lo, com entrega, com dedicação, também com curiosa aceitação, esperando na experiência a próxima lição, que talvez… talvez… o aproximasse de sua verdadeira missão e propósito.

A guerra em sua verdade nua e crua lhe feriu a alma, mas também a curou…

E o curou de ideias, juízos sobre o certo e errado, sobre o provável e o improvável, sobre o justo e injusto…

Assim, naquilo que é uma guerra, foi feito prisioneiro em um campo de concentração sendo cuidado por um soldado, que pensavam ele e seus colegas desconhecer sua língua.

Desta forma zombavam dos soldados que os tinham feito prisioneiros, mas este jovem alemão, com sua natureza devocional na crença de que todos os homens são bons, repreendia os colegas dizendo:

– Ele está cumprindo seu papel, assim como nós o nosso. Eu o respeito por isso, pois sei como é duro renunciar ao que conheço como certo para cumprir, em nome de um bem maior e a pátria, tarefas que ferem minha consciência.

Passaram-se os dias, os meses, e em um determinado momento o jovem fugiu.

Abrigou-se em um trem de carga e disse saber que seu carcereiro facilitou-lhe o feito ou talvez o auxiliou, pois na medida em que o respeitava em seu dever, digna e silenciosa simpatia se instalou entre eles.

A guerra acabou e o jovem, com todas as marcas que conquistou, estava pronto para o próximo passo. Da mesma instituição que passara anos estudando, a Congregação Mariannhill, tornou-se parte e começou um trabalho que alguns anos mais o levou a outro país.

Na África do Sul, onde pessoas viam e viviam a vida de forma muito diferente da sua, aquele jovem que tinha muitas ideias achava que iria servir a este povo com todo o conhecimento que uma vida abastada em um país “civilizado” podia oferecer.

Muitas ideias, muitos livros, muitos “hábitos corretos”, intelectualmente corretos.

E a vida lhe presenteou com a riqueza de culturas milenares totalmente diferentes, onde o respeito aos antepassados e ao que é, como é, refletiam um equilíbrio nos relacionamentos que levavam este povo, mesmo sendo considerado tão primitivo, a viver e experimentar o que hoje ele ensina: olhar e ver, ouvir e escutar, estar presente em estado de gratidão genuína ao que aconteceu, exatamente como é.

Esta postura ou forma de viver, possibilitou a essas pessoas exercitar com consciência e responsabilidade o bem querer ao outro, pois tinham certeza que cada um dos integrantes do povo estavam totalmente conectados e eram igualmente importantes.

Este jovem e estudioso homem observou que doenças da mente e da alma como depressão, tão comuns no mundo civilizado, não existiam ali.

Isto inquietou seu coração e o fez “afinar” sua percepção, e assim ele foi aprendendo sobre os vínculos de amor que ligam os seres humanos e como mantê-los saudáveis.

Aprendeu que honrar, respeitar e se curvar aos pais e antepassados, evitava problemas de coluna, dor nas costas e nas articulações, pois curvar-se ao que vem antes significa aceitar o destino como é, como foi possível.

Assim o caminho é claro. Não se tem dúvidas.

Assim é possível liberar-se para cumprir seu destino com suas habilidades e com a força de seus antepassados.

Assim ele foi observando, vivendo e descrevendo as leis que, na sua experiência, são a chave da felicidade… Sim, pois felicidade é mais que sorriso e bem estar, é tudo que faz parte.

Bert Hellinger: Um breve biografia

Bert Hellinger nasceu em 16 de dezembro de 1925, em Leimen, Alemanha. Nascido em uma família católia, aos 10 anos foi enviado para a Monastério Católico escolar para estudar. Mais tarde, foi ordenado e seguiu para África como missionário.

Em 1942 foi para a guerra, onde acabou prisioneiro na Bélgica, em um campo de concentração. Conseguiu escapar e retornou para Alemanha, onde entrou na ordem dos Jesuítas. Dentro deste caminho, foi enviado para África para trabalhar como missionário nas tribos Zulus.

Permaneceu na África por 16 anos. Lá, também estudou na Universidade da África do Sul, onde se formou em Educação. Durante este tempo chegou a ser o administrador responsável por mais de 150 escolas da diocese.

Nos anos 60, entrou em contato com grupos de estudos onde começou a perceber a fenomenologia como fonte de conhecimento. Neste período, ele saiu do seu trabalho como missionário e como padre.

No começo dos anos 70 estudou psicanálise em Viena, completando os estudos dessa vertente em Munique e também passou por intenso período nos Estados Unidos, onde entrou em contato com diversos tipos de terapia.

Hellinger dedicou-se a uma formação e estudos terapêuticos diversificados, entre eles a psicanálise, terapia primal, análise transacional, hipnoterapia, psicodrama, terapia familiar.

Foram muitos os aprendizados e observações que o conduziram até o encontro com as Constelações Familiares.

Foi no início dos anos 80 que desenvolveu a Constelação Familiar como método próprio de trabalho e, nessa trajetória, até o final de sua vida, escreveu mais de cem livros, traduzidos em diversos idiomas.

Aos 93 anos, em 19 de setembro de 2019, Bert Hellinger faleceu em sua casa na Alemanha, deixando para o mundo o legado de tantos anos de dedicação, estudo e trabalho com este método que nos traz um novo olhar para nossas relações, para o amor e para a vida.