O Amor que move uma Constelação Familiar

corações, amor

Em mais de uma década de experiência aqui no Raízes Instituto essa é a compreensão que tem movido o nosso trabalho nas Constelações Familiares: a Constelação só é possível pelo amor que movimenta o sistema de cada pessoa que chega aqui, trazendo consigo sua família, suas histórias, suas dores e amores.

Isso não é uma idealização, nem poesia. Na vivência da Constelação vemos o quanto os emaranhamentos ocorrem por um amor que atua na alma, ou inconsciência do cliente. Isso é muito comum.

“O aspecto mais importante foi reconhecer que o amor atua por trás de todos os comportamentos, por mais estranhos que nos pareçam, e também de todos os sintomas de uma pessoa. Por esse motivo, é fundamental na terapia que encontremos o ponto onde se concentra o amor. Então chegamos à raiz, onde se encontra também o caminho para a solução, que sempre passa também pelo amor. Isso eu vivenciei primeiro na terapia primal e, em seguida, também na análise do script e na terapia familiar.” Bert Hellinger

Muitos chegam com uma postura de estarem desligados de sua família, ou como se não se importassem com o que se passa entre seus familiares. Mas isso muda quando sua dor é vista e acolhida na Constelação. Vemos as reações do cliente, dos representantes e do grupo durante o trabalho, e é visível que o que move uma Constelação é o amor profundo que existe no cliente e em cada integrante do seu sistema.

Talvez seja até possível dizer que não estamos acostumados a sentir conscientemente a intensidade do amor que se revela, pois ele é algo muito forte: não é um amor que somente acolhe ou acalenta, ou que diz coisas boas para nós. É acima de tudo um amor que age e que faz o necessário para que a vida siga adiante.

O que é esse amor?

Bert Hellinger nos lembra sempre que “tudo é amor, amor que adoece, amor que cura”. O amor que fideliza e adoece busca a resolução, a inclusão, a liberação através do sintoma de fracasso, através da dor, da doença, da solidão. Faz doer até que você decida olhar e se expor à vida como foi e como é. Amor que faz doer para que despertemos para o amor que cura, só possível na aceitação e inclusão.

É uma grande experiência estar em contato com esse amor profundo. Ele nos dá novas portas para ajudar a compreender como somos capazes de criar nossos próprios problemas e dificuldades, sendo ele também a grande força por trás da solução.

É também este amor o responsável pela criação de vínculos tão profundos em um relacionamento de casal, como o que é criado através dos filhos.

Mas é importante reforçar: não estamos escrevendo sobre poesia aqui. Esse amor é real, poderoso e imperfeito. Ou perfeito de uma forma que não conseguimos compreender completamente, mas é possível vivenciá-lo claramente em um grupo de Constelação Familiar.

“Restava sem dúvida aquilo que se identificava ainda mais com o próprio Amor, O Pai dá ao Filho tudo o que Ele é e possui. O Filho se dá de volta ao Pai, e se entrega ao mundo, e pelo mundo ao Pai, dando assim o mundo (que está nele) também de volta ao Pai.” C.S. Lewis

Essa experiência é rica e transformadora, e é entrar em contato com esse amor profundo que nos movimenta após a Constelação. Ele nos ajuda a sair da identificação pessoal do “EU” para olhar as relações dentro de um sistema, num contexto mais amplo.

Mas qual a lógica disso?

É que levamos muitas das dificuldades que sentimos na vida como um ataque pessoal: “Ele fez isso comigo para me atingir”, “Ela fez isso para me machucar…”

Então, quando percebemos que há amor, inclusive no ódio, abaixamos as armas e conseguimos entrar em contato com o outro lado. Novamente, isso não é idealização, nem poesia.

Isso é uma das maiores percepções e vivências que a Constelação Familiar e Sistêmica de Bert Hellinger traz. Somos ligados pelo amor e ele é um dos grandes motivadores de nossos movimentos na vida. O Amor de um pai, de uma mãe, de uma mulher e de um homem

Esse amor não é um buquê de flores. Não é um presente. Não é uma ligação. Não é um abraço nem um beijo. Há algo que corre ainda mais na profundidade do nosso ser além do que consideramos “demonstrações de amor”.

Esse amor é como um pai excluído, que espera o filho voltar novamente para um abraço. E ele aguarda e cuida da sua vida enquanto o filho permanece em seu processo, nas descobertas que essa dor traz.

Esse amor é também o de uma mãe que não interrompe o caminho do filho em direção ao pai, embora julgue este homem, no papel de marido, como causador de suas dores.

Ou de uma mulher que olha para a infelicidade da mãe e decide juntar-se a ela na sua dor, achando que assim poderá resolver algo.

Ou ainda como um homem que passa a vida conciliando conflitos na esperança (inconsciente) de que isso resolverá o problema que está ocorrendo dentro de sua casa.


O Amor, sem julgamento

São todas vertentes do amor que nos impulsiona – as vezes em direção do abismo e as vezes em direção de uma solução.

Mas o amor age como força propulsora de grande parte de nossa vida, e geralmente não nos damos conta disso. Apenas pensamos que tomamos uma decisão racional e baseada no que “queremos”.

Julgar nos limita. O olhar sem intenção e sem julgamento é um dos pilares do trabalho da Constelação Familiar. É essa postura que permite que a dinâmica que atua em uma família possa ser percebida em um atendimento.

“Quando buscamos escapar do que é pesado, pecaminoso ou agressivo, perdemos justamente o que queríamos conservar: nossa vida, nossa dignidade, nossa liberdade, nossa grandeza. Somente aquele que se defronta com as forças obscuras e concorda com elas, permanece em contato com as próprias raízes e com as fontes de sua força. Tais pessoas não são simplesmente boas ou más. Elas estão em sintonia com algo maior, com sua profundidade e força.” Bert Hellinger

Por isso, em uma Constelação precisamos dessa postura sem julgamento, para que aquilo que realmente atue venha à tona. É assim que temos uma chance de encontrar uma solução menos destrutiva para o cliente que vem em busca de ajuda.

Normalmente, mesmo aquelas pessoas que são difíceis para nós – que nos impõem os maiores limites, que sentimos como se “fizessem algo ruim para nós” – nas Constelações vemos que elas também, como nós, agem motivadas pela consciência de seu próprio grupo, pela necessidade de pertencimento ou buscando solucionar algo que ficou paralisado ou esquecido em sua história ou na história de sua família. Ou seja, estas pessoas também agem por amor.

Neste trabalho, fomos aprendendo que não existem pessoas culpadas por isso ou aquilo e sim pessoas emaranhadas em suas dificuldades e nas questões que seu sistema familiar impõe aos membros para que sejam solucionadas.

A Constelação Familiar

Levar uma questão difícil de nós mesmos ou de nossa vida para um Workshop de Constelação Familiar é entrar em contato com essa força que aqui chamamos de amor.

É esse amor que nos movimenta em direção à dificuldade. E é o mesmo amor que permite a força necessária para sairmos do padrão onde estamos emaranhados.

Reconhecer este amor e sua força torna tudo mais leve. Nos desapegamos da posição de vítimas e nos vemos iguais àqueles que anteriormente olhávamos como inimigos. Nós também podemos, dependendo das circunstâncias, agir da mesma forma. Isso é fato.

A vivência desse amor nos permite estarmos cientes do que é o ser humano, de seus potenciais e suas fraquezas. Reconhecemos isto e permitimos ver o mesmo em nós e nos outros que nos cercam. Assim, ficamos mais leves em relação à vida, livres para viver o que está em nosso caminho.