Quando nos questionamos sobre o que é fenomenologia, é comum que façamos uma confusão de que trata-se de algo místico ou mágico. O que não é verdade, posto que para a compreensão sobre esse estudo que lida com os fenômenos é preciso um olhar mais crítico e ampliado.
Vamos começar com o que seria a ideia de fenômeno?
Teoricamente trata-se daquilo que podemos captar a partir de um ou mais dos nossos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato). Porém, existem coisas que não podem ser captadas através deles, como por exemplo a essência de alguém. Não podemos vê-la nem tocá-la, ela precisa ser revelada.
Através da percepção fenomenológica poderemos alcançar o indizível, o essencial que muitas vezes se mantém oculto, mas que se torna rastreável pelos sinais capturados fenomenologicamente.
Se você está em busca desse entendimento e deseja embarcar nessa jornada de conhecimento mais profunda sobre esse tema, então está no lugar certo e no artigo ideal para abrir os caminhos de sua compreensão.
Você vai ver nos próximos tópicos o que é fenomenologia e como ela pode contribuir com a sua postura no dia a dia.
Compreendendo o que é fenomenologia
Edmund Husserl (1859-1938), famoso matemático e filósofo do século XIX, definiu a fenomenologia como uma corrente filosófica, baseada na construção de uma visão do ser humano mais “compreensivista”.
Ela busca compreender qual o propósito entre a consciência e o ser, retornando à intuição pura e a percepção da essência, os correlacionando.
De forma sucinta, Husserl defendia a proposta de que o mundo é composto de energia, logo, nem sempre o óbvio chega à consciência de maneira clara. Basicamente, essa percepção se baseia no pressuposto de que nem tudo o que parece, realmente é. Portanto, é fundamental para a fenomenologia, um olhar para o ser desprovido de julgamentos e preconceitos.
Mas como ela se mostra? O que é o ser humano? Como conhecê-lo?
Estas foram algumas perguntas norteadoras feitas por Edmund Husserl.
Bert Hellinger – criador da Constelação Familiar Sistêmica – utilizou a abordagem fenomenológica para estudar o comportamento humano, colocando-se em um lugar muito além de observador. Ele vivenciava as ações de transformação, compreendendo as experiências de uma maneira muito mais significativa e comprovada.
Veja abaixo um trecho de Hellinger sobre o que é fenomenologia:
[…] Este é o modo fenomenológico de trabalho. Não se apoia em nenhuma teoria e tampouco em experiências anteriores, mas se trabalha apenas com o momento. Isso é muito difícil, porque a terapia é sempre um novo risco. O procedimento fenomenológico não tem de querer, nem saber, nem temor. Olha para aquilo que une, atrás de tudo o que aparece e é apoiado e conduzido por aquilo que é base e limite de todo o querer.
Como cada ser é único, Bert Hellinger se colocou frente a um importante questionamento: por que para cada indivíduo o peso de determinadas ações e transgressões são diferentes em suas consciências?
Com essa indagação, ele desenvolveu sua compreensão sobre as 3 consciências que atuam em cada um e como elas afetam os nossos comportamentos.
Os três tipos de consciência abordadas por Hellinger
São três as consciências observadas por Hellinger: consciência pessoal, consciência coletiva e consciência universal. Cada uma delas responde a uma necessidade de pertencimento do indivíduo a um grupo e será determinante na forma com que ele irá lidar com as mais diversas situações em sua vida.
Determinados por um clã ou pela coletividade, todos buscam em última instância a sobrevivência.
Entenda melhor cada uma das consciências:
1 – Consciência Pessoal
Essa é a consciência que nos conecta a relações interpessoais, fundamentais para a nossa felicidade e bem-estar. Ela é estreita e possui alcance limitado, pois ao diferenciar o bem e o mal só reconhece para alguns o direito de pertencer, agindo de acordo com o que faz sentido para um determinado grupo e excluindo outros.
É por isso que procuramos nos comportarmos de acordo com a expectativa que carregamos desse determinado grupo para nos mantermos pertencentes.
Seu objetivo principal é garantir o pertencimento e sobrevivência pessoal, e também nos alerta quando nosso pertencimento está em risco.
2 – Consciência Coletiva:
Essa consciência coletiva ou de clã está em funcionamento para a sobrevivência não só do indivíduo, mas sobretudo do grupo, pois todos os seres humanos estão ligados aos pais e ao clã em uma comunidade de destino.
Dessa forma, todo membro da família tem o mesmo direito de pertencimento, e quando esse direito é negado a alguém que teve um destino difícil (como por exemplo um assassino, um natimorto ou outros destinos delicados no sistema familiar) essa consciência toma alguém, normalmente um descendente, que irá se identificar com o excluído e de forma totalmente inconsciente irá imitar seu destino, pressionado pela necessidade de compensação da consciência do clã ou consciência coletiva.
Essa consciência é totalmente amoral, não faz distinção entre o bem e o mal nem entre culpa ou inocência. Seu objetivo é restaurar a integridade do clã, mesmo que para isso tome um ou mais membros de forma sacrificial, para denunciar e incluir o que estava excluído e unir o que estava separado.
Assim, essa consciência busca incluir do mesmo modo a todos e o faz através dos registros e memórias transgeracionais que são armazenadas de geração a geração.
Respeito à hierarquia e ao equilíbrio também são exigidos para a manutenção da ordem nos sistemas familiares e afetam diretamente a esfera pessoal, familiar e coletiva do indivíduo. A consciência coletiva está atenta a todos esses movimentos.
3 – Consciência universal
Aqui não existe uma limitação referente ao individual ou ao grupo.
Essa é a consciência que se dedica de forma igual a todos, independentemente de onde ou a qual grupo as pessoas pertençam.
A consciência universal se baseia no amor e aceitação de todos exatamente como são, servindo ao amor e à paz. Aqui não há diferenciação entre certo e errado, melhor ou pior, bom e mau. Existe apenas o que é como é. Tudo e todos fazem parte.
Ver com os olhos da inclusão, aceitando o que se mostra como é, sem julgamentos, expectativas… sem exclusão.
Aqui se percebe a postura fenomenológica, que segue e considera o fluxo natural dos fenômenos, lidando com cada aspecto e cada situação, sem enquadrar o que acontece em pensamentos segregacionistas ou limitadores.
Aplicação da fenomenologia nas Constelações Familiares
Agora que você já sabe um pouco sobre o que é fenomenologia e sobre os tipos de consciência, está na hora de compreender como desenvolver essa postura no seu cotidiano.
Talvez o tema mais sensível que leva a maioria das pessoas a pesquisarem sobre as Constelações Familiares – cujo alicerce fundamental está na fenomenologia – é para entender e resolver problemas de ordem pessoal, referentes à carreira, relacionamentos familiares, amorosos, entre outros.
Acredite. Há uma saída para a dor que talvez você esteja sentindo hoje, e o melhor: você tem a chave que abrirá o caminho para a solução.
A Constelação Familiar pode ser aplicada para além da resolução de conflitos pessoais. Ela também é eficaz em diversas áreas de trabalho, como na área do Direito, Pedagogia, Saúde, bem como nas Organizações.
Isso é possível devido a visão sistêmica, que de forma inclusiva e imparcial amplia a percepção sobre os recursos existentes nos diversos sistemas em que estamos inseridos, otimizando o cumprimento de seus propósitos.
Para saber mais sobre essa atuação em áreas diversas, confira os artigos publicados em nosso blog!
Uma jornada para dentro de si!
Agora que você compreendeu um pouco mais sobre o que é fenomenologia, está na hora de iniciar ou avançar em sua própria jornada de autoconhecimento para compreender o que ainda pode melhorar em todas as áreas de sua vida.
Bert Hellinger nos deixou um forte legado, através de uma terapia breve que transforma vidas permanentemente.
Essa abordagem terapêutica nos permite entrar em contato com dores e dificuldades que limitam e impedem que a força do amor em nosso sistema familiar flua e nos encaminhe ao sucesso.
Ao trazer luz sobre o que está oculto, é possível ressignificar os eventos determinantes das dores transgeracionais e reescrever a história com um novo script.
Claro que esse assunto não se esgotou. Ainda há uma enorme fonte de conhecimentos sobre a força que habita em você que está à sua disposição.
Continue acompanhando!
Conclusão
Nesse artigo você conheceu o que é a abordagem fenomenológica que é utilizada no trabalho das Constelações Familiares e as três Consciências fundamentais que moldam nossas vidas e comportamentos.
Nesse caminho de autoconhecimento com as Constelações Familiares, convidamos você a continuar nos acompanhando por esse vasto campo de sabedoria. No próximo artigo aprofundaremos sobre essa jornada para dentro de si, como é o autoconhecimento na prática.