A Pedagogia Sistêmica nas escolas traz um novo paradigma que vem ampliando a visão do que pode existir acerca das dificuldades de aprendizagem. Vê a escola como um espaço importante que favorece o movimento do ser humano para a vida, onde começa conquistar espaços de autonomia para além do sistema familiar.
Leva em conta o que há oculto nos sistemas familiares e escolares que impedem essa pessoa de crescer. Através do olhar da Constelação Familiar Sistêmica de Bert Hellinger, que está presente em vários países do mundo, e vem crescendo muito no Brasil, esta abordagem surge como uma das alternativas terapêuticas que aponta para o que está oculto no processo do indivíduo, que lhe dificulta apropriar-se do conhecimento de forma fluida. É um novo enfoque terapêutico que olha os transtornos de aprendizagem de um outro lugar.
Muitas vezes percebemos alunos sendo excluídos, outras vezes observamos que fracassam na escola, denunciando através de seus comportamentos a repetição de padrões ocorridos em seu sistema familiar de origem. Repetem o destino de seus pais, irmãos, tios e avós. Se há inversões de papéis, ou pessoas ocupando lugares que não são os seus, há sofrimentos.
A pedagogia sistêmica pode ser aplicada em situações de dificuldades de aprendizagem, de problemas comportamentais, em conflitos entre alunos e professores e quaisquer problemáticas que surjam no sistema escolar direta ou indiretamente.
A Pedagogia Sistêmica nas escolas traz um novo paradigma que vem ampliando a visão do que pode existir acerca das dificuldades de aprendizagem. Vê a escola como um espaço importante que favorece o movimento do ser humano para a vida, onde começa conquistar espaços de autonomia para além do sistema familiar.
A seguir, o relato de uma professora que experienciou a técnica das Constelações.
Relatos de uma professora
“Sou professora das séries finais do ensino fundamental em uma escola pública municipal em Uberlândia/MG e a direção da escola me permitiu colocar em prática as Constelações Familiares de acordo com Bert Hellinger. Comecei em 2007.
Desde o primeiro dia de aula convidei-os a conhecer o trabalho, explicando a importância de se respeitar os pais e o próprio destino. Iniciei formando um círculo onde todos nos abraçamos e desejamos boas-vindas ao novo ano letivo.
Em seguida, sugeri que se imaginassem em contato com os pais: se encostassem, ficassem no colo, como bebês e sentissem o conforto de estarem protegidos por eles, mesmo não tendo conhecido um deles ou ambos e agradecessem a vida. À medida que fazia isso periodicamente, fui observando que muitos alunos não conseguiam encostar-se nos próprios pais, então durante o exercício ia até a carteira e fazia exercícios de imaginação. Às vezes fazia grupos.
Chegou um momento que os alunos se sentiram tão bem que começaram a pedir para serem constelados. Agendávamos, a partir desta solicitação, atendimento para um dia de módulo da formação em Constelação Familiar. Os atendimentos individuais com bonecos eram feitos na presença de um dos pais ou um familiar responsável pelo aluno. Obtivemos muitos resultados satisfatórios e descrevo alguns:
M. uma menina de 11 anos que gaguejava tanto que não conseguia ler em voz alta. Fiz uma Constelação utilizando exercício de imaginação, onde a questão se mostrou estar ligada a uma irmã de 9 meses que morreu engasgada com excesso de comida. Quando nasceu recebeu o nome da irmã morta. Dois meses depois de constelada a menina não gaguejava e já conseguia ler.
C. I. um menino de 11 anos que não fazia tarefas, não tomava banho todos os dias, tinha os cabelos desgrenhados e sujos, arrastava enormes chinelos e estava sempre distante. Julgava o pai porque é alcoólatra. Conseguiu fazer um grande movimento em direção ao pai. Cortou os cabelos duas semanas depois e começou a fazer tarefas escolares, em seguida começou a ir limpo para a escola, mas mesmo assim foi reprovado. No final de 2008 foi aprovado para 6ª série, seu material é organizado e está alerta nas aulas.
C. um menino de 14 anos fazendo a 5ª série pela 3ª vez era rebelde, brigava, xingava, não anotava as aulas, não fazia tarefas escolares, tinha problemas todos os dias, estava sendo encaminhado para o conselho tutelar quando conversei com a mãe. Ela foi até a escola e fizemos uma Constelação individual com bonecos, ele estava identificado com o padrasto, pois não conhecia o pai que foi embora quando ainda era muito pequeno e colocou o padrasto no lugar do pai, séria transgressão ao pertencimento. Os problemas foram amenizando, ele começou a fazer tarefas de Inglês e Ciências, diminuíram as brigas e as ocorrências. Foi reprovado, mas conseguiu ser promovido em 2008 e está muito feliz.
MP. um menino de 12 anos da 6ª série era rebelde, não fazia tarefas, tinha péssimas notas, era sujo, rabiscava os cadernos e perdia todo o material. Fizemos uma Constelação em grupo e trabalhamos com um segredo em relação à mãe. Em 2008 foi um dos melhores alunos da sala, com todo material organizado, entregava tarefas antes do prazo e obteve boas notas. Está mais concentrado e foi promovido para a 7ª série.
MJ. um garoto de 14 anos da 7ª série me foi encaminhado por uma pedagoga, porque ele não era meu aluno. Era rebelde, respondia, brigava, xingava, não fazia tarefas, faltava muito e tinha momentos de muita ternura e educação. Estava preso ao pai que fora assassinado pela mãe, que após o assassinato fora embora e nunca mais ele soube dela. Foi um excelente aluno na 8ª série em 2008, além de carinhoso, sorridente, cooperativo e assíduo.
W. um garoto de 10 anos da 4ª série tentou suicídio dentro da própria escola. Trabalhei apenas com a mãe em uma Constelação individual com bonecos. Ele estava identificado com o assassino do pai. Seu comportamento mudou totalmente e não falou mais em suicídio.
Wll. um garoto de 15 anos, faltava muito às aulas, respondia, brigava, conversava durante as aulas, não fazia tarefas, não respeitava os professores. Fizemos pequenos movimentos em relação ao pai durante todo ano de 2007 e ele melhorou bastante. Ao final de 2008 me pediu para constelar porque queria muito mudar, queria transformar sua vida em algo muito bom. Coloquei-o de frente para o quadro e pedi para olhar para sua mãe (ela havia morrido em consequência de um câncer quando ele tinha 10 anos e desde então o pai se tornara alcoólatra; o garoto cuidava do pai e da casa). Ele desmaiou. Chamei-o para a vida, ele abriu os olhos e disse: “Professora, falei com a minha mãe. Está tudo bem agora”. Ele não voltou em 2009, foi morar com uma tia porque o pai se casou novamente.
Em 2008 uma pedagoga pediu sugestão de um trabalho coletivo para uma 6ª série com muitos alunos repetentes e que estava novamente com baixo índice de aproveitamento, muita brincadeira e falta de compromisso. A direção autorizou e utilizamos duas aulas para o trabalho.
Fizemos um círculo com os alunos e a pedagoga representava a turma, cada aluno levantava-se, chegava diante dela, olhava em seus olhos fazendo contato e dizia “sim”. Quando metade da turma já tinha feito esse movimento, ela não resistiu ao peso e sentou-se no chão. Eles ficaram muito preocupados com ela, expliquei que era assim a sala e que por isso os professores não estavam conseguindo ajudá-los. Eles disseram a ela: pode se levantar, isso é comigo. Ela se levantou e entregou a cada um o seu destino e seu emaranhamento. No dia seguinte constelamos dois alunos que não conseguiram dizer sim. Foi um trabalho muito bonito e estamos aguardando resultados.”
Fonte do depoimento: Instituto Bert Hellinger Brasil Central
Os relatos da professora nos mostram o quanto podemos apoiar o crescimento e desenvolvimentos dos alunos com dificuldades quando olhamos para além da dificuldade, para o que os está guiando nestes movimentos de insucesso.
Conhecer os fundamentos do campo sistêmico familiar tem exercido influências precisas e eficazes em muitos casos e atendimentos clínicos realizados em todo o mundo, abrindo caminho para soluções destes conflitos escolares e familiares.